Prezado Amigo Cliente
Já imaginou a sensação de desconforto que é andar à procura de inspiração para a última crónica da Grafopel Newsletter 2018, que consiga o singular fascínio de prender a sua atenção e me deixar orgulhoso de ter estado à altura da peça?
Como o que escrevo nunca me satisfaz, mesmo quando alguns leitores amigos me embalam os ouvidos de forma lisonjeira, vou teimando por algo que desafie a sua imaginação e lhe desperte interesse de ler até ao fim, retendo na memória o meu latim, pelo menos até ao ano que vem, que o Natal já está chegando e pouco falta para o Novo Ano, e com ele a primeira Grafopel Newsletter 2019, feita com aquele amor que nos torna felizes, para que seja lida e julgada, justificando o esforço, que da minha parte é já quase um acto heroico! Cada vez mais intrincado cumprir-me nesta missão a que me habituei, sofro só de pensar que um dia terei de voltar as costas a quem me rodeia.
Dava tudo por uma boa ideia, que estimulasse a minha imaginação. Enquanto não chega, cá por dentro a inquietação continua a roer. Arrastado pela fascinação do Natal, bem que gostaria de anteceder o milagre da Noite Santa com um bom texto, que falasse do Mistério Divino e de todo o ritual da Consoada, que nesta ocasião reúne fraternalmente as famílias à volta da mesa onde não podem faltar as mais variadas iguarias, que são um deleite para os mais gulosos dos gulosos, que depois de uma generosa bacalhoada, seguida de peru ou cabrito, ainda sobra espaço para as rabanadas, para a aletria, filhós, bolo-rei, etc… Porque não mudamos o nome às coisas e passamos a designar o Natal como o dia de comida à fartazana para comer tudo o que nos dá na gana?
O calendário natalício, com mais de 2000 anos, não sei que por espírito invisível, cada ano aviva a chama de uma nova esperança, que se acende dentro de nós como um halo de Luz Divina. Num tempo em que as pessoas carecem saber como enfrentar a vida, a esperança é um sentimento que traduz a realidade dos nossos sonhos e das nossas ambições; de uma vida sem fel, que no dia-a-dia não faça murchar a ilusão de viver e tudo quanto nos é caro.
No destino comum que é o nosso, seria desejável substituir o egoísmo pela generosidade e a indiferença pelo sentido de fraternidade, que alguns credos introduziram agitando consciências e mobilizando vontades, ainda que eles próprios, com os seus exacerbados fundamentalismos, se desmintam. Em vez de exaltarem a paz e a fraternidade, algumas vezes são eles próprios a marcar as tensões e conflitos que ensanguentam a humanidade.
Mas, voltando ao Natal, se há festas que eu gosto a valer, é mesmo esta. Natal é tempo de regressar à infância e aos sonhos de criança. Já alguém disse que “O baú da infância é como a arca de Noé: está lá tudo o que fomos, mesmo aquilo que inventamos como verdadeiro”.
Tinha quatro anos quando pela primeira vez ouvi falar e sentir o Natal. Parecia-me um mistério, talvez por influência e conversa dos maiores. Nessa altura, o cenário do presépio surgia como uma novidade para os meus olhos. O burro e o boi virados para mim, a ovelha e o galo entre S. José e Nossa Senhora, a pequena manjedoura onde repousava o menino Jesus, as velinhas acesas, os pastores, os três Reis Magos e os seus camelos, tudo num cenário de musgo verde como esmeralda colorindo a paisagem até à gruta tosca, feita de pedra, madeira e palha, tudo me parecia um esplendor. Era um mundo de segredos que na minha mente de criança começava a ganhar vida; um mundo que tinha homens, mulheres, crianças que podiam falar, rir, chorar, cantar como se todos fossem irmãos. Nas meninas dos meus olhos, protegidas pela inocência, esse mundo parecia um sonho.
Ainda estou a ver a cena ao romper do dia de Natal, lá em casa da avó, quando em cima da mesa de jantar vi um brinquedo de madeira, prenda do Menino Jesus. Se bem que modesto e vulgar, tinha todo o encanto que me cabia nos olhos. Foi um amor à primeira vista, que ainda dura na lembrança. Um mundo sem fim de recordações, que ficaram para a vida, que retenho na memória com um estremecimento emotivo de saudade. E, assim, vou despertando do meu sonho de criança, onde ainda brilha uma estrela. É a estrela da minha infância, dos meus Natais, dos meus Presépios, que veio ver-me para consolar-me, lembrando-me os ausentes muito queridos que povoavam os meus Natais de menino.
O espaço para esta crónica, afinal, foi ocupado por estas divagações, que vieram pela calada, em bico de pés, sem pedir licença, deixando-me sem jeito.
A todos os meus Amigos e Clientes desejo um Natal e Novo Ano com todas as felicidades do mundo.
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