Quando tanto se fala de equidade, como forma de reconhecer direitos e deveres igualmente repartidos de cada cidadão, num momento em que é necessário entender toda a dimensão das dificuldades que varrem o país de lés-a-lés, agride e ofende a posição de respeitáveis(?) corporações, que, blindadas pelo preconceito de vacas sagradas, são vesgas a distinguir o seu egoísmo do bem-comum.

Cada português, de qualquer classe social, do mais simplório ao mais ilustrado, com maior ou menor entendimento do que se passa à sua volta, com maior ou menor consciência ou responsabilidade cívica, não tem dúvidas quanto a ser cidadão de um País, com leis e regras que o comprometem a cumprir com umas tantas obrigações. Algumas até podem ser injustas, como p. ex., o corte de salários, pensões e outras medidas igualmente dolorosas, que o governo, por imposição de uma troika credora, é constrangido a aplicar, para que o programa de ajuda financeira vá até ao fim, pois, a sua denegação agravaria ainda mais as nossas fragilidades.

É verdade que algo em nós se revolta quando temos de aguentar as consequências de  erros cometidos por sucessivos governos despesistas, e sermos nós, agora, a pagar como se fôssemos culpados das suas loucuras megalómanas. Mas, a realidade é que partilhamos todos um destino mais ou menos comum e, num momento em que nos vemos impelidos para uma crise que está sendo dramática para a maioria da população, é vergonhoso e imoral que alguém se arrogue do direito de eximir-se, arbitrariamente, das obrigações a que todos os outros estão sujeitos.

Mesmo quando as circunstâncias impõem diferentes perspectivas, o que é imperativo perceber é que o que está em causa é o nosso destino colectivo e não os interesses isolados de corporações mais papistas do que o Papa, que tendem a reputar-se de elites dominantes, sem qualquer justificação racional. Eles dum lado e a gentalha do outro.

Nesta crise que nos deprime, em que o Estado – manjedoura de muitas vacas sagradas – gasta com o seu estadão o maior quinhão da economia produzida pelo país, sem soluções para evitar as implicações que as medidas de austeridade arrastam consigo, tais como: falências, desemprego, desigualdades sócio-económicas, que marginalizam uma larga parte das famílias portuguesas, a nossa sociedade, incluindo as vacas sagradas, tem o dever de estar solidária na resolução dos problemas que envolvem o país inteiro.

Nada de mais cobarde do que alguém, a quem também se exige um pouco do seu esforço em prol da comunidade, obedecendo a impulsos egoístas, manifestamente convictos dos seus privilégios, se mobilize numa luta eticamente imoral.

Parece um paradoxo, que aqueles que podiam ser exemplo e referência da nação, se exponham na praça pública a puxar pelos seus galões de vacas sagradas, insensíveis a qualquer sentimento de solidariedade e fidelidade nacional.

É por estas e por outras que os portugueses já não se revêem nos seus dirigentes, corporações e outros privilegiados avulsos, como por ex. institutos, fundações, associações e I.P.S.S., que nada ou muito pouco contribuem para o desenvolvimento do país. A maior parte, sem qualquer utilidade pública, apenas favorecem interesses próprios.

Num contexto de tão dramáticas dificuldades, subjugados à exigência de um orçamento que restringe drasticamente a vida de cada um de nós, ninguém, perdido nos labirintos do egoísmo e da indiferença, tem o direito de eximir-se ao esforço que é exigido a todos, na perspectiva de se conseguir dar forma e expressão aos objetivos, aspirações e necessidades de um país, a tentar desenvencilhar-se das garras dos credores.

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