Quando é que a impressão digital superará a impressão offset?

Nos EUA a organização PRIMIR (Printing Industry Market Information and Research Organization  -  Organização de Informação de Mercado da Indústria Gráfica e Pesquisa) está prestes a lançar um estudo de mercado sobre o impacto da impressão digital que foi preparada pelos seus serviços de IT Strategies (Estratégia de Informática).

Este estudo analisa o período entre 2009 e 2014, e projecta uma queda em volume de páginas na impressão analógica durante este período de 0.3% e um crescimento da impressão digital de cerca de 15.9%. Embora isto possa parecer um enorme crescimento no sector da impressão digital, no entanto se isto for colocado em todo o seu contexto      verificar-se-á que a impressão analógica representa 97% de todo o volume de impressão enquanto que a impressão digital representa apenas 3%. Estes resultados não são por valor mas por número de folhas impressas. A IT Strategies indica que um dos resultados do estudo é que as páginas digitais têm um custo muito superior às páginas da impressão analógica. Assim se o estudo fôr para perceber o valor da impressão analógica e da digital, concluímos que o custo da digital será muito superior a 3%. Em termos de formato de página todos os resultados estão baseados no formato A4, impresso num só lado (todos os volumes de impressão analógica estão convertidos para o equivalente a este formato).

Um dos aspectos chave do estudo da PRIMIR é  estabelecer quando é que o “ponto de encontro” da impressão analógica e a impressão digital ocorre. O resultado do estudo é que demorará décadas até isso acontecer, se acontecer. Fazer tal avaliação é muito difícil, se não mesmo impossível, na medida em que existem diversas variáveis desconhecidas a ter em linha de conta. Eu creio que ninguém pode ter em conta um estudo que é apenas realizado numa base de folhas impressas, pois deveria também incluir o custo da impressão, a dimensão das tiragens, as mudanças que têm ocorrido no mercado, como por exemplo, o impacto do e-leitores (leitores de formatos digitais) na redução das tiragens dos livros.

O valor mundial de toda a impressão na indústria gráfica em 2009 foi de 413 mil milhões de euros. Tive recentemente a oportunidade de passar algum tempo com a Heidelberg a analisar os seus planos para reentrarem no mercado da impressão digital e, como resultado disso, tive o privilégio de ver alguns resultados de mercado da Heidelberg. A Heidelberg gera os seus resultados a partir de diversas fontes, que incluem a PRIMIR, mas também outras empresas de pesquisa na indústria da impressão e do papel. Estes resultados, tendo em conta a totalidade do mercado de impressão, são baseados no custo da impressão em vez de número de páginas.
Neste estudo tomam como referência o ano de 2009 como o ano base para a apresentação real dos resultados. Este mostra que o valor mundial de toda a impressão da indústria gráfica nesse ano foi de 413 mil milhões de euros. Os resultados apresentados  mostram que o valor da impressão em 2009 teve uma quebra nos sectores comercial/embalagem/editorial, com o sector comercial a liderar 42%. Assim como uma separação dos processos de impressão (folha-a-folha, rotativa, etc.) com a impressão    folha-a-folha a liderar com quase 38% e a produção digital ligeiramente acima dos 6%.

Os resultados da Heidelberg confirmam que as páginas impressas em digital são mais caras do que as páginas em impressão analógica, em linha com a presunção de que as páginas impressas digitalmente obtêm preços de venda mais altos do que as páginas impressas analogicamente. Isto pode ser entendido em termos de outros benefícios como por exemplo, tempos de entrega mais reduzidos ou pequenos volumes de encargos.
Os resultados da Heidelberg mostram também que o crescimento do volume de produção de material impresso ao longo do século XXI foi claramente estático, sobretudo devido a duas crises económicas. As projecções da Heidelberg para o período 2009-2015 mostram um significativo CAGR de 1.61%.

Para muitos observadores da América do Norte e Europa, esta projecção de crescimento pode parecer estranha, particularmente quando os resultados apresentados pela PRIMIR mostraram um crescimento negativo de 0.3% na área de impressão. Para entender o que está a acontecer e por que é que a Heidelberg projecta este crescimento, devemos ter em conta os mercados mundiais onde se prevê que o crescimento do PIB nos mercados em desenvolvimento será claramente superior do que no mundo industrializado. Estamos a falar da Ásia Pacifico, América do Sul, Europa Oriental, África e Médio Oriente.  Em todos estes mercados de impressão ainda está a acontecer crescimento e a impressão digital representa apenas uma parte deste mercado. Existe também um mercado com uma grande necessidade de substituição de máquinas offset, particularmente nos EUA onde existe um grande volume de equipamento offset antigo em utilização.

A queda na receita de produtos impressos em 2009 foi acentuada mas não caiu para níveis inferiores a 2003. Outros conjunto de resultados bastante interessantes da Heidelberg revela que apesar da recessão o volume global de receitas de produtos impressos não variou de forma significativa. O ano mais fraco em termos de receitas foi 2003 e melhor foi o de 2007. Assim sendo, a queda de receita em 2009 foi acentuada mas não caiu abaixo dos valores de 2003. Até 2015 a Heidelberg está a projectar um crescimento de aproximadamente 1% p.a., baseada na queda limitada das receitas de material impresso no ano fiscal de 2009 e a visão positiva relativamente aos países em desenvolvimento. Este crescimento de 1% diverge com a previsão de queda da PRIMIR na área da impressão no mesmo período de tempo.
Comparando com o suave desenvolvimento da receita da produção impressa na recente crise, verificou-se uma queda acentuada do investimento em novas máquinas de impressão em 2009, e enquanto que existe um aumento projectado a partir de 2010, a Heidelberg não antevê que isto chegue aos níveis anteriores a 2009.

Resumindo, eu penso que muitas projecções sobre o crescimento da impressão digital são francamente irreflectidas. Isto particularmente quando o assunto da personalização é mencionado. Eu não penso que haja um volume muito elevado de personalização a ser desenvolvido. A maior parte das personalizações são realizadas por organizações especialistas , e a maioria dos impressores comerciais realizam pouco trabalhos deste género. Obviamente que este mercado irá crescer com a introdução de maquina de impressão inkjet de alimentação contínua e elevada velocidade, mas o maior crescimento deste negócio será no mercado de impressão transaccional. Para além disso, a maior parte desta nova impressão inkjet de elevada velocidade está a ser direccionada para a substituição no offset de itens como impressão de livros e não propriamente para o mercado da personalização. Uma das áreas da impressão digital que é vulgarmente mencionada onde a maior parte da personalização toma lugar é na  impressão sobreposta de direct mail impresso em offset utilizando cabeças de impressão inkjet.
Recentemente visitei uma dos maiores impressores de direct mail no Reino Unido, onde cada momento da personalização é realizado no departamento de acabamento, utilizando impressoras inkjet da Kodak (Versamark e Prosper). Toda a impressão é realizada em duas rotativas offset Goss Sunday. Os comentários deles foi que não era possível realizar personalização em grande escala em trabalhos de direct mail utilizando as máquinas de impressão digital, dado os custos de impressão serem sobejamente mais elevados quando comparados com a impressão offset.

O meu entendimento é que embora eu seja um grande entusiasta da impressão digital e em particular da impressão inkjet a cores, de alimentação contínua e de elevada velocidade, existirá um longo período de tempo até que o “ponto de encontro” entre as duas tecnologias venha a ser alcançado ou que o digital algum dia venha a sobrepor-se à impressão analógica. As máquinas de impressão offset  são muito competitivas, particularmente quando produzem num ambiente web to print.
Eu tenho que concordar com as projecções da Heidelberg de que iremos continuar a ver  o offset manter a sua posição relativamente ao digital, por muitos e muitos anos.  As máquinas de impressão electrofotográficas digitais estão a atingir as suas limitações em termos de tecnologia e neste momento as máquinas de impressão inkjet ainda não são capazes de atingir a qualidade das máquinas offset, para além da sua limitação em termos de substratos que podem utilizar. Neste momento a impressão digital tem zero de penetração no espaço reservado a revistas e jornais e muito pequeno acesso no sector da embalagem. Tenho de concordar com a projecção da Heidelberg de que iremos continuar a ver que o offset irá manter a sua posição relativamente ao digital por muitos anos e que muitos anos irão passar até que o “ponto de encontro” seja atingido.

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